quarta-feira, 22 de novembro de 2023

Professor

 Ele entrou na sala cheio de certezas e compromissos; mais um dia de trabalho agitado se iniciava no escritório. Suas vestes esportivas destoavam do "dress code" da chefia de um departamento tão importante na Universidade, mas ele não se importava muito com as regras em geral, e isso incluía as vestimentas oficiais, pois sua rotina era muito corrida para limitar-se ao que vestir. Além disso, ele tinha poder suficiente para vestir a roupa que considerava melhor.

O rapaz possui um currículo impecável, fala dois idiomas fluentemente, é doutor e professor universitário. Além disso, é loiro de olhos claros e imensamente bonito.

Quando ele passa as mãos nos fios de seus cabelos, e ele fecha os olhos ao fazer isso, a pressão atmosférica comprime os corpos à sua volta, aquecendo desde nossos pés até pulsar a têmpora. Não posso falar do que ocorre no coração dos outros, mas o meu (não sei se por conta do verão vibrante no mês de novembro ou o charme apoteótico deste gesto) acelera a ponto de arrancar suspiros, como os de uma adolescente ao ver o ídolo de seu fã-clube.

As primeiras palavras dirigidas a mim vieram após um desfile estiloso pelo setor. Ele "passarelava" conversando com seus iguais de um lado para o outro, carregando aquele jeito desprovido de formalidades e aquele cheiro de musk amadeirado. Eu, na copa fazendo o café, apenas espiava com o canto dos olhos o seu se locomover.

Então ele chegou perto e disse: "E aí, Sarita!" Ele é carioca, e suas palavras arrastam-se em um movimento de onda, de mar. Ele me remete a Itapirubá da década de 90 quando eu, criança quietinha em cima do meu bodyboard, ouvia os surfistas conversando entre si na parte onde não dava pé, achando que todos eram campeões e que todos arrastavam aquele falar. Logo, esse jeito de falar ressoa como um jeito de campeão pra mim. A fala dele tem essa conotação.

Voltando ao momento presente, ele se aproxima e pega na minha mão, abraça com as mãos dele, e por um instante todas as falas em volta se calam. A temperatura sobe a milhão (mesmo a sala trincada de fria por conta do aparelho de ar condicionado), e eu ali, sem conseguir dizer nada. Poderia ser uma pessoa descolada e piscar pra ele, poderia. Mas não sou.

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